A VIDA DE BOB DEAN - Fragmento IV


O dia começa a clarear e Bob caminha lentamente pela praia. Pés descalços, passos curtos, cabeça baixa... Parece que procura algo ou busca entender seus sentimentos. Respostas que a vida não entrega e que, talvez, sequer entenderemos.
O Sol começa a despontar no horizonte e isso parece ser a única coisa que faz Bob parar e olhar para os primeiros raios que começam a aparecer, diante de um céu limpo e de uma mar com ondas suaves. Um vento vindo do oceano provoca uma sensação refrescante, aliviando o ar abafado de mais uma manhã quente de Janeiro.
E lembranças de Clara surgem como cenas de filmes antigos: tremidos, faltando partes, mas que trazem em si a essência da arte. Difícil usar o tempo que conhecemos para medir a ele próprio. Às vezes, dias parecem semanas e horas se transformam em segundos na cadência desconexa do amor.
O tempo, pouco passou e Bob decidiu regressar à cidade de Clara e o carnaval era uma boa desculpa para ser utilizada. Hospedou-se em um hotel próximo a rodoviária com uma ansiedade visível, esperando apenas as horas para a noite chegar. Com boa parte da cidade nas ruas poderia ser difícil encontrar Clara, mas também seria difícil encontrarem ele por ali. Isso porque o pai de Clara não aceitara a idéia de que um namoro entre Clara e Bob poderia acontecer.
Na primeira noite, Bob percorreu toda região central onde acontecia o carnaval, entrou em bares, restaurantes e boates; e mesmo sendo um dos últimos a ir embora, quando o Sol já ameaçava aparecer, Bob não encontrou Clara.
Ao se levantar por volta das 13h, decidiu ligar para uma pessoa próxima à Clara a fim de saber se ela iria a noite nas ruas, mas ele não queria contar que estava na cidade.
Do outro lado da linha, Beth ainda não tinha levantado da cama. 
“Como você me liga assim tão cedo?” Exclamou Beth sem sequer abrir os olhos. 
“São quase duas da tarde, Beth!” Respondeu Bob.
“Me ligue de volta as seis, então, ok?”
“Não, não!!! Clara está por aí?” 
“Não... Fomos à uma cidade vizinha ontem ver o Carnaval lá.” Respondeu Beth quase voltando a dormir. “Faz o seguinte: Liga entre sete e nove da noite, ok? Depois disso a gente vai ver como está o carnaval aqui na cidade.” Beth desligou sem dizer tchau.
As ondas tocam os pés de Bob e por alguns instantes o trazem de volta a realidade. Mas a água fria não espanta o desejo de ter os dedos de Clara entre os seus e caminharem juntos pelo parque contando segredos inconfessáveis e rindo das coisas mais idiotas da vida. Ela parecia-lhe completar e ela parecia feliz ao estar ao seu lado.
Mas a cena dela envolvida pelos braços de outro parecia ter esmagados os sonhos e trazido um nó no peito sempre que lembrava de seus desejos, ainda envoltos por uma magia quase inexplicável. O olhar desconfortável e perdido de Clara ao ver Bob naquela rua parece encará-lo mesmo com o passar de algum tempo.
“Não sabia que você estava na cidade...” fala Clara com uma voz tremida.
“Desculpe por não avisar.” Ironiza Bob. “Não sabia que estava namorando...”
“Ele não é meu namorado!” Tenta explicar Clara.
“Não precisa explicar... Talvez eu não queira mesmo saber!”
E ele continua sua caminhada pela praia; talvez procurando respostas que nunca encontre. Talvez procurando uma cura que não o tornará imune, mas que o faça seguir em frente, mesmo querendo voltar no tempo.