SPATIFILUS



Há aproximadamente uns sete anos atrás, em meio a um momento de tranqüilidade após vários acontecimentos em minha vida, minha mãe possuía alguns pequenos vasos de plantas (aqueles de plástico) que estavam morrendo. Aquela cena diária me despertou a cuidar daquelas plantas, entre elas uma pequenina Spatifilus.

A Spatifilus é uma planta de fácil adaptação que pode ser colocada tanto dentro como fora de casa desde que não fique muito exposta ao sol direto. Necessita de pouca rega: umas duas vezes na semana durante o verão e uma durante o inverno. O importante é que sua terra não permaneça encharcada florescendo apenas durante dois períodos no ano, desabrochando uma flor única, branca, num caule longo que contrasta com o verde forte de suas folhas.

Desculpe pela empolgação, mas achei importante escrever isto, pois há um detalhe que observei. Esta planta se adéqua bem a lugares onde há equilíbrio. Será que é por isto que o nome mais comum dela seja Lírio da Paz? Ela é bastante resistente a pragas, por isso se algo lhe acontece normalmente está ligado à falta de cuidados.

Bom, voltando ao meu Spatifilus, ele cresceu. Passei para um vaso maior, porém ainda de plástico. Quando casei, mudamos para um apartamento, e aí ele ganhou um vaso de cimento (ainda pequeno). Este ano, mudamos para nossa casa e o coloquei num vaso de cimento grande (o que aparece na foto) para que pudesse se desenvolver, uma vez que há muito tempo parecia ter estagnado. As folhas demoravam a crescer e, mesmo estando com espaço muito bom para suas raízes, ele permanecia tímido para se desenvolver.

Aproxidamente cinco meses depois que mudamos uma tempestade de granizo caiu sobre BH e aquelas pedrinhas foram suficientes para perfurarem cada folha do meu Spatifilus. Quando cheguei à noite em casa, lá estava ele: firme, porém gravemente ferido.

Preocupei-me em dar toda a atenção que julgava ser necessária, mas o tempo passava, as folhas perfuradas iam ficando pretas e morrendo uma após a outra. Diante de tais cenas, percebi que se não fizesse algo, nossa caminhada de vários anos acabaria por ali mesmo. Precisava cortá-lo, lançar fora as folhas mortas, velhas, feridas, pois elas estavam sugando a energia que poderia ser usada para gerar novas folhas.

E assim foi.

Para minha surpresa, muito pouco tempo depois, começaram a surgir uma quantidade incrível de novas folhas e brotos. Meu Spatifilus renascia e se mostrava de uma forma como nunca tinha se mostrado. Várias folhas desabrochando, o verde se tornando mais verde, o morto morrendo de vez.

Talvez você pergunte: “Mas e daí?”

Daí que percebi que em mim há tantas folhas que diante das chuvas de granizo da vida ficaram feridas, envelheceram, trocaram a beleza pelo prazer de sugarem as energias e assim, o tempo serviu apenas para mostrar as marcas de algum passado, de algum momento, de alguma angústia, de alguma mágoa, de algum rancor, de alguma tristeza, de alguma desilusão, de algum dissabor.

E durante todo o tempo permanecia sendo regado pela água da Graça do Pai. Cuidado com o amor mais profundo e inimaginável existente.

Diferente da planta que não poderia se auto podar, me vi diante de uma flor que me ensinava o que o Pai gostaria que eu fizesse a mim a fim de ter novos ramos, nova vida, novos sonhos, novos objetivos, nova vida.

Enquanto cuido e observo o renascer do meu Spatifilus, cuido de mim, orando ao Pai para que as folhas que apenas sugam minha seiva sejam retiradas de mim. Sei que Ele me ouve, como também sei que tais atitudes dependem de mim. Pois sou eu que preciso assassinar minha natureza Adâmica todos os dias convertendo-me ao Pai para florescer, pois o que me adiantaria a Graça se eu a usasse apenas para saciar minhas folhas envelhecidas e feridas?

BH 29/12/2008