O GIGANTE ACORDOU


O povo apropriou-se das ruas em gritos diversos, se alimentando de informações distantes das mídias antigas, unindo-se através de uma tecnologia pouco conhecida por seus governantes.

Mas, que povo é esse que rejeita partidos políticos, que critica duramente seus governantes e caminha de mãos dadas sem nomear qualquer um como seu líder?

Este é um povo cansado da mesmice, cansado dos mesmos discursos belos e sem conteúdos, cansado de receber guela abaixo informações que não condizem com a realidade que vivem no dia a dia.

O Brasil superou a ditadura que se levantou à época na esperança de deter os comunistas que queria o comando na força. Elegeu seu primeiro presidente que morreu, antes mesmo de assumir seu cargo e viveu na sucessão automática o início de pesadelos inimagináveis. Escolheu um presidente jovem, de partido desconhecido e de tão decepcionante foi às ruas exigir sua renúncia. Seu vice promoveu o milagre de conter o dragão que dilacerava os salários antes mesmo dele chegar ao bolso. Na confiança, elegeu e reelegeu o autor do feito histórico. Mas a subida ao próximo degrau ficou distante, difícil e o povo depositou suas esperanças em alguém que viveu as entranhas da realidade da maioria de todos nós, elegendo e reelegendo-o. Na confiança, quebrou paradigma e elegeu como líder a primeira mulher como presidente da nação.

Mas o que adiantou caminhar por três décadas e confiar em todos estes? Enquanto cada representante político eleito tem o seu patrimônio em crescimento exponencial, o povo tem suas esperanças e sonhos dilacerados dia após dia.

Antes a justificativa era a falta de dinheiro, de investimentos estrangeiros... Hoje, há dinheiro e investimentos, mas apenas para a cúpula que governa e que insiste em transformar o povo em massa de manobra.

Mas a internet uniu vozes que ecoaram silenciosas e calmas, enquanto as redes sociais juntaram desconhecidos que, como irmãos, se uniram em ideais. A pressão aumentou no profundo abstrato e eclodiu para uma realidade inimaginável.

O Gigante Acordou numa invasão do mundo virtual no real. A união se multiplicou, e apesar da quantidade de desejos, as vozes ecoam por este gigantesco país de maneira límpida e clara.

Os que dizem não compreender estão profundamente imersos no mundo egoísta e falso que criaram. Contaram a si próprios as mesmas mentiras tantas vezes que eles mesmos acreditaram que estavam vivendo uma verdade. Falam tanto em democracia, que quando eclodiu o grito da real democracia, eles se pasmaram dizendo não entender.

Não... Não temos líderes a não ser nós mesmos. Não temos outros sonhos, a não ser os nossos e que, apesar de serem muitos, são comuns, justos, tangíveis e verdadeiros.

As ruas estão cheias de democracia, mas não a democracia que os nossos pseudos representantes políticos gofam em seus discursos hilários. As ruas estão cheias da real democracia ou como escreveu Tom Zé, elas estão cheias da Unimultiplicidade, “onde cada homem é sozinho a casa da humanidade.”

Respire este ar. Se molhe nesta chuva. Estamos escrevendo a nossa história com as nossas próprias mãos. Estamos tomando conhecimento do quanto somos fortes, mesmo não tendo um sistema que nos represente. Estamos sentindo a liberdade, honrando cidadãos brasileiros que clamaram há tempos atrás: “Libertas Quæ Sera Tamen”... Liberdade ainda que tardia.


RM 21/06/2013