EXTREMOS

De tempos em tempos um grupo antes reprimido consegue um espaço que não existia. Após algum tempo, a minoria de outrora consegue igualar forças com o grupo que a oprimia. E quando enfim, esta minoria transforma-se em maioria; ela promove um massacre similar ao que vivera. Percebemos então, que produziram apenas mais um extremo de um mesmo lado; tão ruim e nocivo quanto seu antecessor. Nesse momento, alguns imaginam que talvez exista algum ponto de equilíbrio. No entanto, um grupo que antes era reprimido consegue um espaço que não existia...

Vivemos assim uma mesmice cíclica, a qual só mesmo a moral para fornecer a maquiagem perfeita para nos levar a crer que um momento atual é melhor que um anterior. Mas a moral é apenas mais um grupo com seus subgrupos e suas bandeiras extremas, oferecendo seus produtos com promessa de rejuvenescimento inédito. E assim evoluímos com a perspectiva que novas regras nos tornarão mais livres.

No entanto, esta sensação serve apenas para viciar na mesma embriaguez, como “viagens” de uma mesma substância química, a qual se crê ser diferente dada a variedade de rótulos. Rótulos que se oferecem como belos, atuais e inovadores. Algo que o marketing, utilizando de boas mídias, lucra imensuravelmente. Lucro que abastece algum grupo antes reprimido, mas que agora consegue um espaço que não existia...

Sou de uma espécie que acredita que cada ser carrega em si a humanidade, o dom de ser o que não era pra ser, que enxerga no outro a si próprio e, talvez por isso, seja tão difícil amá-lo. Sou da espécie que acredita que cada ser carrega em si um amor inexplorado, capaz de nos desumanizar a tal ponto que nos elevaria a um nível de maturidade nunca antes alcançado.

Sentenciamos a certo e errado apenas o que julgamos compreender e compreendemos com a mesma capacidade de nos sentirmos satisfeitos vivendo apenas em extremos. Como cegos que não discernem sons... Como surdos que não discernem cores... Como humanos que não discernem a vida.


BH 17/03/2013