ANJO


O presidente errou e o que eu faço, doutor?

Trabalhei sem parar.
Achei que a situação seria melhor.
Confiei no Congresso e no presidente.
A religião me expulsou

E agora, doutor, que tudo ferrou?

Pensei positivo, mudando as palavras
Virei noites, me afundando em papéis
Parei de beber pra tentar entender
Que o normal da vida é a vida anormal.

E agora, sentado neste sofá, o que eu faço doutor?

Mudei de caminhos sem pedir perdão
Tomei decisões sem ouvir opinião
Me isolei, me prendi
E só aí percebi que, então, me perdi.

Quando passar o efeito, o que eu faço doutor?

Voltei a beber tentando esquecer
Que amizade nem sempre vem do coração,
Que amor são interesses que não interessa ao outro
E que vivemos felizes destruindo o futuro.

Me dá a receita, doutor, que o tempo acabou
E ao voltar para lá voltarei a sentir
Que a solidão é meu anjo.
Um anjo caído que caiu por aqui.
BH 18/01/2013