A última entrevista de Amy: “Sou minha pior crítica”

Neil McCormick, crítico de música do jornal britânico The Telegraph, fez a última entrevista com Amy Winehouse antes de sua morte, no último sábado (23). Foi em março, quando ela gravava o dueto com Tony Bennett no lendário estúdio da Abbey Road.


Segundo McCormick, Amy estava muito tensa ao lado de Tony, um de seus ídolos. “Amamos muito você”, disse ela ao cantor, ao chegar ao estúdio. “Não vou chorar”, disse Amy quando ele tocou as mãos dela. “Não vou chorar”. E contou que cresceu ao som de Bennett e Sinatra, os preferidos de seu pai.


Ela pediu desculpas por estar nervosa, dizendo que era a primeira vez que pisava em um estúdio em um bom tempo. McCormick então perguntou como era voltar, e Amy disse: “É bom estar em um estúdio com Tony. Ele é a única razão por eu estar aqui.”


Amy e Tony cantaram lado a lado, seguidas vezes, e cada vez tinha uma novidade. Bennett exibia a calma de seus 85 anos. Amy mordia as próprias mangas, olhava para os pés, para o teto, para todo lugar menos para seu colega de estúdio. “Ouço a voz de Tony bem aqui ao lado e isso é tanto para mim que não posso olhar para cima e ver a pessoa de Tony também. Pode soar bobo, mas é difícil.”


“Sou minha pior crítica”, ela disse. “Se eu não deixar de lado o que eu acho que gostaria de fazer, não seria uma garota feliz.” Amy revelou ainda que o palco era um lugar difícil para ela: “Não nasci para o palco. Nasci para cantar, mas sou bastante tímida, na verdade”.


Amy falou também sobre a vontade de estudar música. “Adoraria estudar guitarra ou trompete. Consigo tocar um pouco de vários instrumentos, mas não toco nenhum bem. Tocar um instrumento faz você cantar melhor. Quanto mais você toca, melhor você canta, quanto mais canta, melhor toca.”


Em março, Amy pensava no futuro. No final da gravação com Tony, ela estava feliz, rindo alto. “Essa é uma história para contar para os meus netos, para eles contarem para os netos deles, para ter certeza de que contarão para os próprios netos.” E Tony respondeu: “Diga ao seu pai que eu mandei um oi”. Ela disse: “Ele vai chorar. Ele vai chorar.”


A última entrevista de Amy não foi sobre drogas, reabilitação, escândalos ou problemas na turnê. Foi uma conversa sobre música e sobre como era, para Amy, estar em um palco. E revela a fragilidade e a sensibilidade da cantora britânica – o que muitas vezes a imprensa deixou de lado ao retratar apenas seus vícios


[FONTE: Revista Época]