MORANGOS VERDES 2

_ Alô.
_ Como estão as coisas?
_ Não sei bem explicar.
_ Quer que eu vá aí?
_ Tem dias em que tudo fica estranho. É uma sensação estranha de sentir.
_ Vamos falar sobre isso então.
_ Somos muito complicados, estranhos... Sempre me perco tentando entender.
_ E precisa entender?
_ Talvez não, mas me pego pensando em coisas assim... E, de repente, vem alguma coisa sem explicação. Um furacão, maremoto... sei lá.
_ Não impedimos isso...

(silêncio)

_ As coisas são assim e não há como brigar com elas...
_ Sem o mal não há equilíbrio, mas de fato, não há equilíbrio. Não é importante o que queremos ou sentimos. Tudo é apenas um jogo em que se fere ou é ferido, se mata ou se morre...
_ Entendo o que você quer me dizer, mas sempre há um dia após o outro e toda tempestade trás sua própria bonança... De alguma forma...
_ Essa é outra lógica insana do equilíbrio. Equilibristas encima de muros. Muros de nós mesmos, ou do que acreditamos, ou sentimos...
_ A ordem não sobreviveria sem o caos... Mas é assim e, talvez, o diferente disso seja morrer.
_ Tão contrária e insana é a própria morte que se baseia na vida pra se sustentar e na fragilidade de cada um. Não sei quando, mas vai acontecer. Não sei como, mas vai acontecer.
_ É o que restou.
_ Esse é o pouco que saboreamos... Este oxigênio que ainda existe...

(silêncio)

_ Mas estou melhor. Não se preocupe. São apenas os dias ruins para equilibrar os dias bons.
_ Fico feliz por você entender...
_ Mas não entendi. Estou apenas tentando viver.

Riva Moutinho 16/05/2011