Integrantes dos Rolling Stones assinam novo livro sobre a banda

Depois da sensacional autobiografia de Keith Richards (Vida, 2010), qualquer livro sobre os Rolling Stones tem que trazer um diferencial para conseguir entreter um fã. E é isso o que According to the Rolling Stones se propõe. A publicação original é datada de 2003, mas só agora o livro ganha edição brasileira (Cosac Naify, 360 páginas, R$ 119). O título According to... (De acordo com) é literal. Richards, Mick Jagger, Charlie Watts e Ron Wood são creditados como coautores do livro, organizado por Dora Loewenstein e Philip Dodd.

Durante a turnê Forty licks (2002), os quatro foram entrevistados em paradas para apresentações nos Estados Unidos, Japão e Austrália. Dodd é figura conhecida do meio, já se debruçou sobre a trajetória de integrantes do U2 e Pink Floyd. Mas o que ele conseguiu da banda foi além do que algum outro jornalista especializado em música poderia, já que tinha a seu lado Dora Loewenstein. Stonemaníacos, por certo, reconhecem o sobrenome. Dora é filha do príncipe Rupert Loewenstein, gerente financeiro da banda há algumas décadas. Tanto por isso, a relações-públicas convive com os Stones desde a infância.

O livro é dividido em 12 capítulos, que começam com rememorações da infância e vão até os preparativos para Forty licks. Não espere revelações bombásticas. Afinal, os Stones, mais do que qualquer outra banda, sempre primaram por sua imagem (e os casos mais cabulosos já foram, por mais de uma vez, contados por terceiros). Anita Pallenberg, musa de Richards que permeia boa parte da narrativa de Vida, é mencionada, sem grande profundidade, em According to the Rolling Stones. O mesmo ocorre com um profundo trauma na história da banda, o fatídico show em Altamont (1969). Puristas, aliás, podem criticar ainda a falta dos ex-integrantes Mick Taylor e Bill Wyman. Mas não há como negar que esta é a única obra que reúne os quatro em atividade falando em primeira pessoa.


No entanto, os autores (Watts é inclusive consultor editorial do livro) de According to the Rolling Stones trouxeram, para o bem-acabado volume, outras armas. Cada um dos capítulos traz textos de pessoas que conviveram com o grupo. O primeiro é aberto por Ahmet Ertegun, nome da indústria fonográfica referendado por vários grandes do rock. Fundador da Atlantic Records, passou a distribuir os álbuns do grupo em 1970. Há ainda textos de Marshall Chess, herdeiro da lendária Chess Records e tornado presidente, também em 1970, da Rolling Stones Stones; Sheryl Crow, que abriu shows da banda nas turnês Bridges to Babylon e Forty licks. Ilustrando tudo isso, inúmeras fotos, muitas delas pouco conhecidas, de gente como Anton Corbijn e Mario Testino. No apêndice, cronologia e discografia completas.

“Ao combinar as quatro vozes dos Stones, há uma visão mais arredondada de sua história, do que dizem as autobiografias de Keith ou de Ronnie, que são necessariamente um só lado de tudo”, afirma Philip Dodd ao Estado de Minas, em entrevista que também teve a participação de Dora Loewenstein.


Durante as entrevistas, o que ainda o surpreendeu a respeito dos Rolling Stones?
Philip Dodd – A incrível memória de Keith. Muita gente realmente acha que ele não se lembra de muito, mas ele é muito interessado em todo tipo de coisa, incluindo questões militares e sociais. Então, Keith foi muito bom para relembrar como havia sido crescer na Inglaterra dos anos 1950. Além disso, tem uma maneira incrível de descrever situações. Os Stones levaram o mesmo profissionalismo dos shows para o projeto desse livro. Charlie, como editor e consultor, queria saber de todos os detalhes, desde a primeira reunião do projeto até a seleção dos profissionais que iriam tratar da parte gráfica.

Quem foi o mais fácil e quem o mais difícil de entrevistar?
Philip Dodd – Nenhum deles foi difícil, mas de todos Mick foi aquele que menos gostou de falar do passado. Ele vive o agora. As primeiras palavras dele para a entrevista inicial foram: ‘Não gosto de história!’ Mas no fim de tudo, ele acabou falando disso.

É difícil lidar com pessoas que têm diferentes versões da mesma história há décadas? Como separar o mito da verdade?
Dora Loewenstein – Apesar de pontos de vista sobre certas partes da história variarem, creio que todos têm a mesma maneira de falar do passado. Também acho que os leitores e fãs sempre gostam de acreditar em uma certa quantidade de fantasia em torno de uma banda. Isso os torna ainda mais intrigantes e os mitos são mais movidos pelos fãs do que pela própria banda.

Não teve medo de que a publicação ganhasse um tom por demais oficial?
Philip Dodd – O livro não poderia e não teria existido se não tivesse sido proposto pela própria banda e por sua equipe. Mas não houve, em momento algum, nenhuma restrição editorial. Não diria que seja um livro oficial, mas um livro escrito sob o ponto de vista dos Rolling Stones.

Aliás, acha que hoje em dia falta algo mais a ser dito sobre os Rolling Stones?
Philip Dodd – Mick poderia escrever sua autobiografia, mas acho isso altamente improvável. No início da década de 1980, ele devolveu à editora uma grande quantia do adiantamento de suas memórias. Talvez Charlie também possa fazer sua autobiografia. Mas esse tipo de livro sempre traz seus próprios ângulos. Por ora, According to the Rolling Stones é a única obra com as memórias de todos os integrantes.

Bom garoto
Coautor de The works, livro que Ron Wood lançou em 1987, Bill German assina mais um livro sobre os Stones que chega às livrarias brasileiras. Under their thumb – Como um bom garoto se misturou com os Rolling Stones (Nova Fronteira, 448 páginas, R$ 44,90) relata a história do autor com o grupo que idolatra desde a adolescência. Nascido em Nova York, German criou, aos 16 anos, o fanzine Beggars banquet, que durou quase duas décadas e fez com que se aproximasse da banda. Com a passagem dos anos, acabou se tornando amigo de alguns dos Stones.

[FONTE: Divirta-se do Portal UAI]