30 anos depois, Bob Marley é o mais famoso cantor de reggae

Os regueiros estão de luto. A morte do maior símbolo do gênero jamaicano completa 30 anos hoje. Robert Nesta Marley, imortalizado como Bob Marley, faleceu em 11 de maio de 1981, em Miami, vítima de um câncer, com apenas 36 anos. Mesmo após a morte, o cantor jamaicano continua sendo o rosto mais popular do ritmo, com seus dreadlocks, sua dança e, principalmente, suas letras personificou as batidas marcantes do reggae. Após três décadas, seu estilo continua influenciando os músicos mais jovens, até mesmo aqueles que nunca viram o ídolo vivo.

Bob se foi, está ao lado de Jah, mas seu trabalho continua em alta. Composições como One love, Three little birds e Buffalo soldier continuam tocando em praticamente todas as festas e shows de reggae da capital federal. A cantora Izabella Rocha, de 35 anos, ex-Natiruts, atualmente na banda In Natura, acredita que a data de hoje é uma celebração da eternidade de Marley. “Depois da morte, não tenho dúvida, de que a obra dele ficou imortal. A imagem dele se tornou atemporal.”

Bob Marley começou a carreira no grupo The Wailers, com músicos como Bunny Wailer e Peter Tosh, ganhando fama na Jamaica. A carreira do cantor e, também, a história do reggae começam a mudar em 1973, quando ele assina com a Island Records, de Chris Blackwell. Com ajuda do empresário — que colocou o grupo no mercado do rock —, No woman no cry estoura e alavanca a carreira internacional de Bob, trasformando o músico no grande divulgador do ritmo no mundo.


Dessa forma, o reggae se espalhou pelos quatro cantos do planeta até chegar ao Brasil e, mais especificamente, a Brasília, onde começou a fazer a cabeça dos jovens da capital. Rogério Fagundes, 35 anos, é um desses exemplos. Durante o fim da década de 1980, o grupo Tijolada Reggae era cover de Bob Marley e só depois se aventurou em composições próprias. “Ele é a influência de quase todas as bandas da cidade. As coisas dele continuam atuais e verdadeiras. Bob é um clássico”, comenta o músico.

Os primeiros vinis de reggae que Nardelli Gifoni, 47 anos, escutou eram de Bob Marley. Isso no ano de 1977. A paixão foi tão grande que, em 1980, juntos de outros amigos, fundou o Sindicato do Reggae de Brasília, na Colônia Agrícola Bernardo Sayão, Guara 2, do qual é o atual presidente. Ao longo desses 31 anos, o local acumulou um dos maiores acervos do Brasil sobre o cantor jamaicano, com mais de 600 vinis e 1.500 CDs, além de livros e suvenires. “Conheci outras pessoas, fomos comprando os materiais disponíveis na cidade. Eram revistas, fitas, pôsteres, bandeira, camisetas, tudo sobre o rei do reggae. Com o tempo juntamos tudo isso que temos aqui”.

Gifoni recorda que no começo dos anos 1980 era muito difícil escutar as músicas do cantor jamaicano nas festas de Brasília. O presidente do sindicato lembra que ele e os amigos faziam um grande esforço para popularizar o ritmo na capital. “A gente levava a fita para as festas e ficava pedindo para o pessoal tocar. De vez em quando, eles ficavam bravos e rolava umas discussões, mas conseguimos mostrar o trabalho do Bob.”

Aos 17 anos, Izabella Rocha viu a capa de uma das várias coletâneas de músicas do Bob Marley. De imediato, ficou curiosa pela foto com aquele homem carregado de dreads. Após ouvir, apaixonou-se pelo ritmo e começou a trilhar o caminho do reggae. “É um bichinho que te pega. Virei regueira de carteirinha, comecei a viver isso.” Como toda apaixonada, a vocalista da In Natura cometeu algumas loucuras de amor. No meio de um cruzeiro, ela e dois amigos decidiram conhecer o túmulo do cantor durante uma parada na Jamaica. “O navio ancorou em uma cidade a duas horas do local. Fomos correndo e quase perdemos a embarcação. Poucas pessoas arriscariam tanto. Mas valeu a pena, a energia que eu senti estando perto dele foi maravilhosa”.

Bob Marley continua presente na vida de Izabella. O atual projeto da cantora, chamado In Natura, está carregado de influências e ensinamento do mestre. “A música do Bob tem uma essência revolucionária, é um ritmo que dialoga com vários outros gêneros, que se reinventa constantemente.”

Em 1994, o baixista e vocalista da Jah Live Original, Bruno Xavier, 29 anos, ouviu Bob pela primeira vez e resolveu aprender um instrumento para tocar reggae. “Nós ainda vivemos em um mundo com desigualdades e problemas. As letras estão ligadas à realidade atual. Ele fala para todas as faixas etárias, jovens e velhos.”

Além do mito
Bob Marley foi mais do que um simples cantor. Foi, de certa forma, o ícone de um movimento político e filosófico que buscava divulgar uma mensagem de paz pelo mundo e de reação às mazelas sociais.

Por conta disso, teve de sair da Jamaica após sofrer um atentado — em dezembro de 1976, ele decidiu abandonar o país natal e morar na Inglaterra após um ataque orquestrado por algumas elites políticas locais. O compositor era considerado um subversivo devido às suas canções que denunciavam a pobreza, a exploração e a miséria. Essa característica fica clara em trabalhos como Get up, Stand up e I shot the sheriff.

Nardelli Gifoni luta para propagar essas mensagens de Bob Marley. Ele acredita que isso é ainda maior que as músicas do cantor. “As pessoas precisam conhecer menos superficialmente o Bob. Atrás do reggae tem uma carga pesada, uma mensagem de paz e esperança muito forte. Injustiças que ele falava há 30 anos continuam atuais, temos que lutar contra isso”, afirma.