RODAMOINHO



Toques suaves de uma brisa doce tocam o rosto que, com os olhos fechados, vêem o céu. Gabriel sente apenas o doce momento de estar aonde gostaria de estar.

Sua vida passa por momentos tempestuosos. Nem sempre o destino segue um rumo imaginado e, muito menos, achamos colo quando queremos chorar.

Do alto do monte, Gabriel vê mais do que casas ou edifícios. Vê horizontes. Não vê apenas pessoas caminhando de um lado para outro. Vê escolhas. Não são carros ou ônibus, mas caminhos com destinos.

Não sabe do tempo. Não veio procurá-lo. Não sabe dos erros ou acertos. Não veio contabilizá-los. Não sabe o que acontecerá após um minuto. Não interessa. Gabriel veio apenas sentir a brisa que acalanta seu corpo e que, às vezes num gesto mais forte, busca suavizá-lo.

Tem dias que dá vontade de não ser eu mesmo. Tem dias que todos os ventos sopram contra. Tem dias que todas as lágrimas decidiram buscar suas liberdades. Tem dias que há dias que nem parecem dias de se viver o dia.

Gabriel eternizava os minutos. Fechava os olhos para um dia nublado. Sentia o vento se tornar frio, mas não tão frio quanto frio estava seu coração. Talvez a brisa seja o único remédio para curá-lo ou para ordenar pensamentos que, como fumaça, decidiram seguir um caminho qualquer.

Sinta o riso do sorriso maroto e a energia sendo aspirada do vento. O carvalho permanece no mesmo lugar e, como imagens em 3D, passado se funde ao presente. O vento balança folhas que lembram outras folhas de um mesmo carvalho de uma outra era. Que nunca foi o que era e já era o ter sido.

Figuras em 3D escrevem no carvalho. Marcas que o tempo fez questão de deixar. E o vento sopra como soprou em outros dias: amigo. Gabriel eternizou seus minutos e o ar que voa sabe que ele é o maior responsável. Lembranças lembradas com a saudade de serem esquecidas.

Esquecidas num tempo que esquece de lembrar o que tanto já foi ou já era.

Num longe próximo o caminhar sereno e os cabelos soltos transformam 3D em real. Em alguns segundos, olhares despretensiosos encontrarão outros que, de tão despretensiosos, o que poderiam pretender?

Um suave sorriso na face energizada de Gabriel mostra que tudo que foi permanece sendo o que era, na intenção clara que não ser o que não pode ser e, nem de imaginar, o que imaginando, não poderia se tornar.

Carol vê.

Não vê mais.

Gabriel já foi, sabendo que poderá ser o que deseja ser. De ser o que continua sendo. Sendo mais do que é. Ele não precisa entender a si. Precisa apenas compreender que nem sempre o era se foi, mas sempre o é se faz presente aqui, assim como aqui é o início de um amanhã que sempre se tornará passado e assim sendo, já era.

Riva Moutinho, hoje (06/10/2006) que já era amanhã