Disputa por dinheiro foi principal causa do fim dos Beatles, diz livro



[FONTE:Revista Época]

A artista japonesa Yoko Ono, viúva de John Lennon, não foi a grande culpada pelo fim dos Beatles, embora ela tenha contribuído para o aumento das tensões e desafinidades que começam a aparecer entre os quatro músicos ingleses no fim da década de 60. Segundo o recém-lançado livro John Lennon - A Vida, do jornalista Philip Norman, outro fator foi decisivo para o desaparecimento prematuro da banda: a disputa por dinheiro e pelo controle da marca.

Em 1968, após a morte de seu empresário, Brian Epstein, a banda criou a Apple, uma companhia que iria gerenciar tudo relacionado à marca da banda, e Paul assumiu uma postura de liderança sobre os outros três. “Vez por outra, eu ainda sentia que Brian ia chegar e dizer ‘é hora de gravar’ ou ‘é hora de fazer isso’. E Paul começou a fazer aquilo... ‘Agora vamos fazer um filme. Agora vamos gravar um disco.’ E ele supôs que, se não nos convocasse, ninguém chegaria a fazer um disco. Paul dizia, vamos lá, que agora ele estava a fim — e de repente eu tinha que desovar vinte canções”, falaria John posteriormente.

Norman escreve que já no final daquele ano o dinheiro do grupo estava sendo consumido pela Apple, repleta de pessoas em busca do sucesso ou simplesmente vivendo do dinheiro dos Beatles. Segundo depoimento de John, “dezoito ou vinte mil libras rolavam para fora toda semana... e ninguém tomava nenhuma atitude”. Os Beatles então se deram conta de que Paul e John não estavam funcionando muito bem como empresários, e que a Apple precisava de uma "nova vassoura", que colocasse ordem na casa.

Nessa época, Paul já estava morando com Linda Easterman, filha de um renomado advogado nova-iorquino. Quando ele conheceu o pai de Linda, achou que encontrara a solução perfeita para os Beatles e a Apple. John, entretanto, encontrou-se em segredo com o contador Allen Klein e, na mesma noite em que o conheceu, rabiscou um bilhete para o presidente da gravadora EMI, Joseph Lockwood, dizendo que a partir daquele momento todas as suas coisas estavam sob os cuidados de Klein. Depois, apresentou a proposta aos companheiros de banda. Paul foi contra: a família Easterman já falara para ele de uma má reputação em torno de Klein, mas George Harisson e Ringo Star foram convencidos pelos argumentos de John e apoiaram sua iniciativa.

Paul, então, foi obrigado pelo resto do Beatles a deixar que Klein assumisse o controle da Apple, mas, conforme conta Norman, não assinou nenhum contrato nem deixou o contador ter influência pessoal nele. Manteve a família Easterman por perto como seus conselheiros particulares. Paul sentiu-se ofendido e perdeu o interesse no grupo. Allen Klein e Lee Easterman passariam os próximos meses batalhando pelo controle da companhia, com sucessos maiores para Klein, e os Beatles ainda gravariam Abbey Road, um último momento em que conseguiram trabalhar em grupo, embora já sentissem que estavam próximos de acabar. “Todos nós sabíamos que aquilo era o fim”, disse George Martin, o produtor da banda.

Em setembro de 1969, quando a banda se reuniu para assinar um novo contrato com a gravadora Capitol, Lennon teria feito um desabafo reclamado do controle que Paul tinha exercido na banda nos últimos anos e terminou dizendo que a banda acabara e que ele estava fora. O anúncio do fim dos Beatles, entretanto, foi adiado até o lançamento de Abbey Road e só foi feito no meio de 1970, por Paul.

Paul depois entrou com um processo para dissolver a parceria legal que os quatro músicos haviam assinado como Beatles & Co em 1967. Os advogados dele afirmavam que quando John, George e Ringo contrataram Klein contra a vontade de Paul, eles romperam o acordo de parceria. Ele também acusava Klein de desviar dinheiro e enriquecer ilegalmente às custas da Apple. O processo se arrastou nas cortes inglesas até 1975, quando a parceria foi definitivamente dissolvida. Foi o fim da banda que é considerada até hoje o maior fenômeno pop de todos os tempos.