GÓLGOTA



Assim disse Jesus no seu último brado, segundo o livro de João, antes de morrer crucificado no Gólgota: “Está Consumado!”. As duas últimas palavras de Cristo ecoaram sobre toda a terra, tanto no plano físico quanto no espiritual e finalizou o início de uma nova caminhada que o homem poderia fazer para encontrar o seu Criador.

Antes de Cristo o homem esforçava para tornar-se merecedor da salvação de Deus. Assim sendo, toda vez que pecava se dirigia ao sacerdote levando consigo o elemento necessário, segundo a Lei, para a remissão dos seus pecados. No livro de Levítico encontramos uma série de procedimentos que o sacerdote levita (da tribo de Levi) precisaria cumprir para realizar a remissão, a purificação dos pecados no povo, como holocaustos, ofertas de manjares... Antes disto, porém, o povo precisava cumprir uma série de regras:

• Só após sete dias depois do parto (se fosse menino, caso fosse menina o prazo seria muito maior, conforme Lv. 12) a mulher seria considerada limpa.
• Se a lepra fosse pelo sacerdote detectada, a pessoa passaria a viver fora do arraial e seria considerada por todos como imunda, (Lv. 13).
• Quando o homem tivesse polução noturna e a mulher menstruação, seriam considerados imundos e precisariam cumprir certas regras para, novamente, serem considerados limpos (Lv. 15:1-17 e Lv. 15:19-30).
• Ao transar com uma mulher e ejacular, ambos teriam que se banhar e seriam considerados imundos por um período de tempo (Lv. 15:18).
• Era proibido transar com uma mulher enquanto esta estivesse menstruada (Lv. 18:19).
• Era proibido, aos homens, danificar as extremidades da sua barba (Lv. 19:27).
• Se uma mulher praticasse sexo com algum animal, ambos deveriam ser mortos (Lv. 20:16).
• Em caso de adultério ambos seriam mortos (Lv. 20:10).
• Havias regras sobre comer coisas santas (Lv. 22).
• A obrigatoriedade do dízimo ao sacerdote (Lv. 27:32).

A leitura do livro de Levítico é, para muitos, cansativa e não possui relação nenhuma com a realidade atual. Será mesmo? Será que Levítico é, também, realidade exclusiva antiga do povo de Israel?

Vivemos num mundo que prestigia e premia apenas aqueles que atingem objetivos e metas. Não há espaço para fracos, cansados e desanimados. Não há tolerância para aquele que insiste em permanecer sendo o que é ao invés de se submeter a algum império, instituição, entidade, governo... A democracia não mudou isto. O socialismo foi ineficaz. A monarquia cega, surda e muda.

No entanto, quando não mais havia alternativa para o homem na história da humanidade, Deus encarnou seu Filho e O ofereceu em sacrifício conforme a Lei assim dizia. Um cordeiro sem mácula. Um homem sem pecado.

Assim Cristo, humanamente chamado Emanuel, teve seu próprio sangue derramado como era feito com os animais, para que cada ser vivente sobre a terra fosse liberto do jugo da Lei e trilhasse o caminho da Graça ensinado por Ele, o qual Ele mesmo se fez o Caminho.

E a cruz foi erguida com o cordeiro imaculado cravado nela para finalizar a obra do Pai para salvação de Sua criação. E Ele sentiu as piores dores do mundo; todas as dores. E Ele passou vergonha, a mais profunda. E Ele sentiu a morte na maior angústia que já existiu. Mas antes, Ele precisava finalizar o que geraria liberdade a cada ser, e tendo absoluta certeza que tudo estava sobre Si e que nada mais restaria para humanamente, por alguém, ser realizado; Ele gritou:

ESTÁ CONSUMADO!

E ao terceiro dia ressuscitou para voltar a aquele que O enviou e deixar entre nós o Seu Espírito, o qual em conversas íntimas com o nosso espírito nos convence do pecado, da justiça e do juízo.

Assim querido, não há esforço a ser realizado, não há regras comportamentais, de qualquer organismo religioso, a serem seguidas e sim a completa aceitação do sacrifício de Cristo, o qual, não assassina a adúltera, mas apenas diz aos seus acusadores: “Aquele que dentre vós estiver sem pecado seja o primeiro que lhe atire pedra.” (Jo.8:7). Cristo não isola o leproso, mas o cura (Mt. 8:1-4). Cristo não isola o pecador, antes se senta à mesa e come com eles (Mt. 9:10-13). Cristo afirmou que não é o que comemos pela nossa boca que nos contamina, mas sim o que falamos (Mt. 15:11). Cristo não lhe obriga a nada, antes contempla o seu coração e anseia vê-lo completamente cheio de amor, adorando-O com toda a sua força e servindo ao seu próximo com o mesmo amor que temos por nós mesmos (Mc. 12:30-31).

Nesta corrida para se conseguir o prêmio pelo esforço próprio, Cristo já se sagrou campeão por cada um de nós. A única coisa a fazer é crer no seu sacrifício, guardar Sua Palavra no coração, buscar o Reino Dele em primeiro lugar, amá-Lo, amar ao meu próximo e falar da Sua Palavra.

Não há esforço humano a fazer; Jesus já fez. Não há fardo humano a carregar; pois o de Jesus é leve. Não há regras comportamentais a seguir, pois só servem para hierarquizar os homens e torná-los juízes de seu próximo. Viva com consciência e consciência no Evangelho sabendo que não celebramos a liberdade da Graça, mas a Graça que Cristo nos concedeu, gerando liberdade.

Assim viva em paz. Na Graça. No favor imerecido que Cristo fez por cada um de nós. Viva no amor, onde só Ele é o amor.

BH, 12/06/2007